Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou uma das maiores tragédias climáticas da sua história. As fortes chuvas e enchentes atingiram centenas de municípios, deixaram milhares de pessoas desabrigadas e escancararam, mais uma vez, como os desastres ambientais atingem a população de forma desigual.
Um ano depois, ainda é possível ver os efeitos sociais, econômicos e humanitários dessa tragédia. Pessoas que perderam suas casas, empregos e redes de apoio seguem em processo de reconstrução — muitas, ainda em situação de extrema vulnerabilidade.
É justamente nesses contextos que as violações de direitos se agravam. A ausência de políticas públicas eficazes, a precarização das condições de vida e a falta de alternativas seguras de renda expõem trabalhadores e trabalhadoras ao risco de exploração, inclusive em situações análogas à escravidão. Desemprego, endividamento, deslocamentos forçados e informalidade abrem brechas para práticas exploratórias.
Além disso, precisamos reconhecer a dimensão estrutural que conecta essa crise a uma questão ainda pouco debatida: o racismo ambiental. No Brasil, populações negras, indígenas, periféricas e trabalhadores do campo frequentemente vivem nas áreas mais afetadas por enchentes, deslizamentos e eventos extremos. São também essas mesmas populações que têm menos acesso a políticas de adaptação climática, crédito, habitação digna e suporte à retomada econômica.
Falar de reconstrução é, portanto, falar também de justiça social e ambiental. E isso exige uma ação coordenada entre governos, empresas e sociedade civil para garantir proteção, oportunidades e respeito aos direitos fundamentais das populações atingidas. Reconstruir é mais do que reerguer estruturas, é garantir dignidade.

