A recente exposição do influenciador Felca trouxe à tona um debate urgente: a adultização de crianças e adolescentes, somada à exposição precoce na internet, muitas vezes, sexualizada.
A adultização é o processo em que crianças são levadas a assumir comportamentos e responsabilidades próprias do universo adulto, de forma incompatível com seu estágio de desenvolvimento. Inclui a sexualização, mas vai além: envolve pressão estética, cobrança por maturidade emocional, exposição à lógica do consumo e até formas de trabalho infantil, por vezes invisibilizadas ou naturalizadas.
Esse fenômeno não é exatamente novo, mas se manifesta com uma dimensão inédita. A internet, ainda amplamente desregulada, transformou a infância em ativo digital. Crianças passaram a ser tratadas como insumo e mercadoria em estratégias de engajamento e monetização, expostas sob a aparência de entretenimento ou influência. Felca também conseguiu escancarar esse debate, forçando a sociedade a olhar para a atuação de meninas e meninos como “influencers mirins”, que geram visibilidade, audiência e lucro, muitas vezes sob a coordenação direta de adultos, inclusive dentro da própria família.
A repercussão do caso expôs também a corresponsabilidade da família, do Estado e da sociedade. E conseguiu pautar a grande mídia e o Congresso Nacional a rediscutir formas contemporâneas de exploração infantil, tão graves quanto aquelas já reconhecidas em outros contextos — como o trabalho forçado, o tráfico de pessoas ou as condições análogas à escravidão, estes que, atualmente, também encontram novas formas de se expandir por meio do aliciamento em redes sociais.
A partir dessa reflexão, ressaltamos que naturalizar essa dinâmica é aceitar que direitos fundamentais das crianças sejam violados de forma sistemática, muitas vezes com a conivência ou omissão dos próprios atores encarregados de protegê-las. Precisamos retomar os preceitos da proteção integral à infância com um olhar atento aos desafios contemporâneos, especialmente os que envolvem o ambiente digital, fortalecer os instrumentos existentes de forma efetiva para que meninas e meninos sejam, de fato, protegidos de todas as formas de exploração.

