A Black Friday, sinônimo de aquecimento do comércio e aumento do número de vendas, é um momento importante para o mercado e para as pessoas consumidoras, mas também pode se traduzir em uma pressão invisível – e muitas vezes desumana – sobre a base da economia. A súbita e massiva demanda por produtos e serviços de logística, que por um lado representa uma grande oportunidade para geração de emprego e renda, também traz o risco de ampliar a precarização das condições de trabalho e, em casos mais extremos, submeter pessoas trabalhadoras a situações análogas à escravidão.
Relatórios da Confederação Nacional do Comércio (CNC) apontam para um aumento que pode ultrapassar 20% na contratação de mão de obra temporária no varejo e na logística no pico de fim de ano. O problema se agrava quando esse cenário vem acompanhado de metas agressivas e alta rotatividade, sem incentivo à formalização e sem garantias mínimas de proteção, comprometendo o direito a condições dignas de trabalho.
A instabilidade da demanda é um importante fator de risco para a ocorrência de trabalho análogo à escravidão. Em cenários de forte pressão por prazos e volumes, tornam-se mais comuns jornadas excessivas, sem descanso adequado, que em contextos mais críticos podem evoluir para jornadas exaustivas, caracterizando trabalho análogo à escravidão e colocando em risco a saúde e a segurança de quem trabalha. Ao mesmo tempo, a urgência em atender pedidos favorece a subcontratação descontrolada, levando empresas a terceirizarem etapas da produção sem o devido acompanhamento e, assim, perderem o controle sobre as condições de trabalho na base de suas cadeias produtivas.
Para o InPACTO, períodos de alta demanda, como a Black Friday e as vendas de fim de ano, exigem atenção redobrada e o compromisso inegociável do setor empresarial com a dignidade humana e o trabalho decente em todas as etapas da cadeia produtiva.

