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Repressão não basta para combater crimes, diz ambientalista

“Reconhecemos o mérito das operações, mas elas precisam vir acompanhadas de ações de fomento na área social. Se não, o caos social tende a se agravar com o problema do desemprego”, destaca Marcelo Marquesini, do Greenpeace

Por Maurício Hashizume

O contingente de cerca de 300 pessoas – entre integrantes da Força Nacional de Segurança (156), da Polícia Federal (70) e da Polícia Militar e dezenas de fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) – que foi deslocado pelo governo federal para em Tailândia (PA) como parte da Operação Arco de Fogo – mantém ações de repressão à extração e comércio ilegal de madeira na Amazônia. Na seqüência, as ações de repressão serão estendidas para outros estados como Mato Grosso e Rondônia.
Cruzamentos de dados mostram que crimes ambientais estão bastante associados à ocorrência de outras práticas ilegais, como a exploração de mão-de-obra escrava. Dos 36 municípios prioritários de combate ao desmatamento selecionados pelo governo federal, 72% (26) também já foram palco de flagrantes da escravidão contemporânea.
A intervenção do poder público na Amazônia se deu como resposta aos veementes protestos da população (inclusive bloqueando a rodovia PA-150 e cercando agentes) contra a Operação Guardiões de Fogo, que teve início no dia 11 de fevereiro deste ano. O tumulto foi causado pela apreensão de 13 mil m3 de madeira ilegal (volume necessário para carregar mais de 500 caminhões) e sete serrarias (são 140 só em Tailândia, a 218 km da capital Belém) foram autuadas.
Quando o Ibama é expulso de uma cidade, declara Marcelo Marquesini, da campanha da Amazônia da organização não-governamental (ONG) Greenpeace,.”o que está em jogo é o Estado de Direito”. As autoridades, segundo ele, não podem aceitar essa lógica de que os madeireiros podem fazer o que quiserem. “Seria perpetuar essa situação”.
As operações de fiscalização e controle fazem parte da mobilização governamental contra o desflorestamento, que ganharam destaque extra com a divulgação de dados recentes sobre o avanço do ritmo de devastação da Floresta Amazônica, que já teve 17% de sua mata derrubada. Mesmo assim, empregadores e empregados do setor madeireiro reclamam da ausência de alternativas econômicas para a região. A prefeitura de Tailândia confirma que a extração de madeira é responsável por grande parcela da movimentação econômica local.
“Reconhecemos o mérito das operações, mas elas precisam vir acompanhadas de ações de fomento na área social. Se não, o caos social tende a se agravar ainda mais com o problema do desemprego”, destaca Marcelo, do Greenpeace. Ele lembra que são inúmeros os focos de desmatamento da Amazônia e que, em outros pontos em que o acesso é mais difícil como no município de Lábrea (AM), esse tipo de ação “nem chega a ecoar”. “Os fazendeiros sabem que a repressão do Estado não chegará até lá. E se aproveitam disso”.
De acordo com ativista do Greenpeace, do total estimado de 23,5 mil madeireiras na Amazônia, apenas algumas dezenas estariam dispostas e engajadas a se dedicar à sustentabilidade da Amazônia. “Existem bandidos que sempre atuaram na ilegalidade que não vão migrar para o bem, seja qual for a política do governo. Para esses, a única medida cabível é a repressão policial mesmo”.
Viscejam heranças culturais muito arraigadas entre os madeireiros, na visão do ambientalista, que destaca ainda que muitos fazendeiros que atuam na região vieram do Espírito Santo e do Sul da Bahia (onde a Mata Atlântica é hoje apenas residual) e também do Paraná e Santa Catarina (estados que assistiram à devastação das araucárias).”A floresta é concebida como espólio”.
“A base das medidas necessárias para o enfrentamento mais articulado da devastação estão previstos no Plano de Prevenção e Controle e Desmatamento da Amazônia (PPCDAM), de 2004, que vão muito além da fiscalização”, aponta Marcelo. Ele pede mais dedicação e investimento do governo para ações na área de sustentabilidade, como nas atividades de treinamento para o manejo florestal. A gestão de florestas públicas, analisa, segue lenta e pontual por causa da falta de estrutura estatal e os planos de reflorestamento em grande escala, que levam muito tempo para se consolidar, pouco avançaram.

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