Anistia Internacional revela trabalho forçado em obras da Copa no Catar
Um relatório da Anistia Internacional divulgado na última semana revela que há casos de trabalho forçado, condições degradantes nos alojamentos e canteiros de obras, ameaças por reclamações e outros abusos sistemáticos contra direitos de trabalhadores nas obras de um estádio em Doha, no Qatar, para a Copa do Mundo de 2022.
O documento ‘O lado feio do jogo bonito: exploração de trabalhadores migrantes em construções para a Copa do Mundo de 2022’ é baseado em entrevistas com 132 migrantes que trabalham na reconstrução do estádio Khalifa International Stadium, definido para ser o primeiro estádio a ser concluído e programado para sediar uma semifinal do principal torneio organizado pela FIFA. Foram entrevistados também 99 migrantes que trabalham no paisagismo de jardins no entorno do complexo desportivo Zona Aspire, onde o times de futebol como o Bayern de Munique e o Paris Saint-Germain treinaram entre dezembro de 2015 e janeiro.
Cada trabalhador entrevistado relatou algum tipo de abuso. Os casos incluíram:
- Alojamento sujo e apertado;
- Pagamento de grandes taxas ($ 500 a US$ 4.300) para os recrutadores em seu país de origem para conseguir um emprego no Qatar;
- Serem enganados quanto ao pagamento ou tipo de trabalho em oferta (todos, mas seis dos homens tinham salários mais baixos do que o prometido quando eles chegaram, às vezes pela metade);
- Não ser pago por vários meses, criando pressões financeiras e emocionais significativas sobre trabalhadores já sobrecarregados com pesadas dívidas;
- Empregadores não deram ou não renovaram as autorizações de residência, deixando-os em risco de detenção e deportação como trabalhadores “escondidos”;
- Empregadores confiscaram passaportes dos trabalhadores e não emitiram permissões de saída para que não pudessem deixar o país;
- Ameaças por reclamações sobre suas condições de trabalho.
A maior parte dos trabalhadores é natural do Bangladesh, Índia e Nepal. Eles falaram à Anistia Internacional entre fevereiro e maio de 2015. Quando investigadores da instituição voltaram ao Qatar em fevereiro de 2016, alguns dos trabalhadores já haviam sido transferidos para acomodações melhores e seus passaportes devolvidos, em resposta às constatações da Anistia Internacional. Outros abusos denunciados, porém, não haviam sido resolvidos.
Reincidente. Não é a primeira vez que as obras da Copa do Mundo no Qatar são denunciadas por violação de direitos humanos. Em 2013, uma série de reportagens do jornal britânico The Guardian revelou que 44 operários nepaleses morreram em menos de dois meses de ataque cardíaco, insuficiência cardíaca ou acidentes de trabalho. A mesma investigação já apontava evidências de trabalho forçado em uma obra do evento.
No ano seguinte, um relatório elaborado pela Confederação Sindical Internacional (CSI) que as obras do evento tiveram, em média, um trabalhador morto a cada dois dias em 2014. A CSI estimou que, se a média de mortes se mantivesse, cerca de 4 mil trabalhadores morreriam nas obras da Copa do Mundo até 2022. Os relatos de aliciamento ilegal nos países de origem e promessas ilusórias, que também constam no relatório divulgado na semana passada pela Anistia Internacional, já havia sido denunciados pela CSI.
Imagem: Divulgação/FIFA