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27 de julho de 2012

Cooperativas viram alternativa à escravidão na Argentina

Costureiros se organizam, passam a produzir com máquinas confiscadas em fiscalizações e formam pólo industrial, em Buenos Aires. E muitas das peças produzidas vestem catadores de material reciclável
Texto e fotos Daniel Santini
 

O costureiro boliviano Domíngo espera que o pólo têxtil que criaram ajude a inspirar iniciativas parecidas no Brasil
Buenos Aires – Oito cooperativas de costureiros organizadas com auxílio do Instituto Nacional de Tecnologia Industrial formaram em Buenos Aires, na Argentina, o Centro Demonstrativo de Indumentária, um pólo industrial de produção têxtil que virou referência na inserção de trabalhadores resgatados da escravidão e exemplo de que é possível e economicamente viável manter produções em alta escala sem submeter empregados a condições degradantes e jornadas exaustivas. “Somos um espelho do que se pode fazer e esperamos que o exemplo sirva de inspiração para outros grupos não só na Argentina, mas no Brasil também”, diz o costureiro boliviano Domíngo Quentasí Ramirez, um dos trabalhadores do complexo industrial. “Existem oportunidades e iniciativas como esta devem ser apoiadas e reconhecidas. É questão de dignidade”, completa.

Tanto o imenso galpão industrial em que trabalham cerca de 100 pessoas quanto às máquinas das cooperativas foram obtidos em meio à luta contra escravidão no setor têxtil. O espaço foi conquistado em 1º de julho de 2009, após intensa mobilização de trabalhadores do setor e pressão política de entidades envolvidas no combate à prática. Os equipamentos, incluindo máquinas modernas para a produção de tecidos e peças especiais, foram confiscados de empresários flagrados com escravos e encaminhados para as cooperativas.

Anita conta que as decisões são tomadas em conjunto em assembleias das quais todos participam
 A administração de cada uma das cooperativas e os rumos da produção é feita por meio de assembleias regulares com participação direta dos trabalhadores. “Nem sempre é fácil, é uma luta diária, mas aqui nós somos donos da produção, donos do nosso destino. Somos mais felizes”, diz Anita Ariceta, da cooperativa ligada à Fundação Alameda, uma das primeiras a formar o pólo. A Alameda, organização voltada para o combate ao trabalho escravo na Argentina, também mantém uma oficina administrada em forma de cooperativa em sua sede.

Entre os grupos estão o formado por trabalhadores da Lacar, empresa que passou a ser administrada diretamente pelos empregados em processo marcado por intensa mobilização após problemas que quase levaram ao fim da produção. “Antes nós apenas cumpríamos ordens, hoje nos interamos sobre todos os aspectos da produção e participamos”, conta María Fernanda Quinderos, costureira da cooperativa. “No começo é difícil, mas é preciso manter a união e agüentar. Depois, quando tudo se estabiliza, os resultados compensam”, completa.

Mária Fernanda, costureira da grife Lacar, que passou a ser administrada diretamente pelos empregados

Catadores
Entre os clientes atendidos pelo pólo industrial e pelas oficinas vinculadas à Fundação Alameda está o Ministério do Desenvolvimento Social da Argentina, que compra das cooperativas os uniformes distribuídos para cooperativas de catadores de materiais recicláveis. Em Buenos Aires, há programas governamentais de incentivo e apoio a trabalhadores que recolhem materiais recicláveis do lixo de Buenos Aires. Para ter acesso a benefícios diversos, os catadores têm que manter, como contrapartida, condições mínimas de higiene, segurança e saúde, incluindo aí o uso de uniformes com faixas reflexivas.

 
Roupas produzidas no pólo têxtil vestem catadores de material reciclável, também organizados em cooperativas de Buenos Aires

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