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21 de janeiro de 2011

Documentário aborda globalização e trabalho escravo

De autoria de ex-diretor do escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, artigo sobre o lançamento do filme “Not My Life” nos EUA reaviva discussão sobre a escravidão contemporânea no mundo atual

Por Repórter Brasil

A relação entre globalização e trabalho escravo contemporâneo compõe o núcleo do documentário “Not My Life”, exibido publicamente pela primeira vez na última quarta-feira (19), no Lincoln Center, em Nova Iorque (EUA).
Em artigo para o Huffington Post, o consultor para questões relativas a trabalho, Armand Pereira, destaca o lançamento da obra e realça: “a globalização propiciou muitas vantagens, mas os processos de desregulação associados à ela também facilitaram algumas práticas desumanas”.
Segundo ele, o cerceamento do direito de ir e vir, a servidão por dívidas, a exploração sexual comercial e outras formas de trabalho forçado e de canais de tráfico relacionados se tornaram uma indústria global que, de acordo com estimativas conservadoras da Organização Internacional do Trabalho (OIT), movimentam mais de US$ 32 bilhões. Outras organizações mundo afora e o próprio Departamento de Estado dos Estados Unidos estimam que esse volume de recursos seja bem maior.
Todas as variedades de trabalho forçado e tráfico de pessoas são tratadas como práticas criminosas, proibidas em leis internacionais e na maioria das legislações nacionais, destaca Armand – que também exerceu o cargo representante da OIT junto às agências multilaterias em Washington (EUA) (2005-2009) e foi também diretor do escritório da OIT no Brasil (1998-2005).
Existem três protocolos da Organização das Nações Unidas (ONU) e três convenções da OIT que tratam da questão. A grande maioria dos governos ratificou esses instrumentos e desenvolve e/ou incrementa leis nacionais complementares e cooperações técnicas nesse mesmo sentido.
“No entanto, o traço ilegal e subterrãneo das diferentes formas de trabalho forçado e tráfico de pessoas fazem com que a extinção dessas práticas seja extremamente difícil. Pouquíssimas vítimas são resgatadas em nível global”, analisa o ex-diretor da OIT no Brasil.
Ele reconhece a existência de várias instituições comprometidas e militantes individuais que atuam para a erradicação do trabalho escravo contemporâneo. Muitos deles estão trabalhando junto com seus respectivos governos e agências dedicadas ao cumprimento da lei.
“Mas esses esforços precisam ser reforçados com mais recursos financeiros e campanhas pró-ativas para mobilizar a opinião pública, particularmente sensibilizando consumidores e incentivando iniciativas no campo dos negócios privados etc.”, completa Armand. Para ele, no mundo do “business” de hoje, não há como compactuar com a possibilidade de riscos de associação com qualquer forma de trabalho infantil ou trabalho forçado (bem como com os correlatos esquemas de tráfico de pessoas) nas operações do seu próprio negócio e também em suas respectivas cadeias produtivas, não importando quão difícil seja monitorar e controlar essas complexas redes.
Particularmente em países com legislação desenvolvida e fortes grupos ativistas de direitos humanos, qualquer companhia envolvida com a exploração de trabalho forçado sofrerá danos não apenas em sua reputação, conforme assevera o especialista, mas também terá de enfrentar custosos processos no Judiciário e responder a denúncia criminal.
Apesar disso, poucas companhias privadas estão engajadas em esforços com todos os seus parceiros no sentido de eliminar o trabalho forçado, o trabalho infantil e o tráfico de pessoas.
Uma das principais contribuições do documentário “Not My Life”, acrescenta Armand, está justamente no potencial que o filme tem de “fazer a diferença” no que se refere à permanente tarefa de informar e mobilizar a opinião pública e o conjunto de atores sociais quanto aos problemas.
“Ainda que alguns tópicos – como o tráfico para exploração sexual de mulheres – tenham sido objeto de reportagens televisivas, há uma lacuna de filmes de produções de maior fôlego que possam tratar da questão do trabalho escravo de forma mais profunda e tenha capacidade de atingir audiências massivas”, analisa o autor do artigo. Somado a isso, o trabalho pode gerar, por valores simbólicos ou até sem qualquer custo, versões enxutas para propósitos educacionais e de arrecadação de recursos que podem ajudar também a contribuir para a cooperação contra o crime.
“Not My Life” é o resultado de um trabalho de quatro anos do diretor, escritor e produtor Robert Bilheimer. Foi filmado na América do Sul e na América do Norte, na Europa, no Sudeste Asiático, na Índia e na África. O documentário conta com a narração da atriz Ashley Judd, e contribuições musicais de Dave Brubeck, Derek Trucks e Susan Tedeschi. Já estão acertadas exibições do filme em salas de cinema de Nova Iorque, Chicago e Los Angeles.

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