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26 de junho de 2014

Hipervalorização de gestores reflete a lógica da injustiça social

Dados divulgados pelo instituto de pesquisa Economic Policy Institute, dos Estados Unidos, mostram que os presidentes das maiores empresas americanas receberam 296 vezes mais do que os trabalhadores no ano passado. O levantamento foi feito a partir das 350 maiores companhias do país com ações na Bolsa e inclui o salário-base e o valor de opções de ações exercidas em 2013.
De acordo com a pesquisa, de 1978 a 2013, a remuneração dos presidentes das empresas, ajustada pela inflação, aumentou 937%, mais do que o dobro do crescimento do mercado de ações e muito maior do que o doloroso aumento de 10,2% na remuneração de um trabalhador típico em relação ao mesmo período.
Segundo o instituto, em 1965, cada presidente ganhava 20 vezes o salário de um trabalhador médio. Já a maior diferença foi atingida em 2000, quando chegou a 383 para um. O aumento da remuneração dos líderes das empresas aumentou, desde 1978, 937%, enquanto os salários dos funcionários médios subiram apenas 10,2%.
O autor da pesquisa conclui que aumento da remuneração dos presidentes, diferentemente do que se pensa, é mais do que uma questão simbólica e sem consequências para a maioria. Para ele, políticas fiscais poderiam ser usadas para reduzir a escalada da remuneração dos executivos e ampliar o crescimento dos salários para a maioria dos trabalhadores. (Clique aqui para acessar o PDF – em inglês – da pesquisa).
Noruega, o maior nível de desenvolvimento humano do mundo
Enquanto os Estados Unidos, assim como outros países, mantêm a cultura dos altíssimos salários dos executivos, a Noruega tem a menor diferença entre gestores e trabalhadores, e o maior Índice de Desenvolvimento Humano do mundo. De acordo com uma pesquisa de Tor Grenness, professor adjunto da Norwegian Business Schoool, uma das maiores escolas de negócios da Europa, a curta distância do poder é a explicação para a pequena diferença entre trabalhadores industriais e executivos. (Leia o artigo – em inglês – sobre a pesquisa no site da Norwegian Business Schoool).
Para o pesquisador, distância do poder é um reflexo de como os benefícios e privilégios são distribuídos em uma sociedade, e em que medida essa distribuição é aceita. Ele acredita que os países com uma grande distância do poder não são apenas caracterizados por uma distribuição desigual de benefícios, mas por uma aceitação maior de diferenças como essas.
Grenness é autor de um estudo em 25 países sobre a correlação entre diferentes dimensões culturais e os salários de executivos e a diferença salarial entre um trabalhador de um posto industrial e um alto cargo.  As conclusões da pesquisa foram publicadas em 2011 no periódico acadêmico sobre relações trabalhistas Compensation & Benefits Review.
Não são apenas os gestores que ganham menos na Noruega para que a diferença seja pequena, são os trabalhadores em geral que são mais valorizados. A lógica do modelo de gestão das empresas norueguesas não é de exploração, e isso, conforme ressalta Grennes, tem a ver com a maneira como a sociedade vê e rejeita essa diferença.
O país teve em 2013 um salário médio de US$ 6278 (quase R$ 14 mil) e atingirá pela primeira vez, em 2014, um PIB per capita acima de US$ 100 mil e, segundo a ONU, jamais uma sociedade atingiu um nível de desenvolvimento humano igual ao de Oslo, capital norueguesa.
Em 100 anos, a Noruega deixou de ser um dos países mais pobres da Europa para se tornar o mais próspero do mundo. A descoberta do petróleo impulsionou esta mudança, mas não teria sido uma solução se os recursos não fossem administrados de modo a criar uma situação de riqueza e justiça social. O debate nas últimas eleições no país foi sobre o que fazer com o dinheiro que sobra nos cofres públicos, conforme publicou o jornal O Estado de São Paulo na reportagem “Noruega, o país mais próspero do mundo”, publicada em 13/04/2014.
A realidade é que o país está “nadando em dinheiro”, como descreveu recentemente Frode Rekve, que comanda o Instituto Norueguês de Mídia. Uma situação que faz com que a população não reclame do imposto de renda, que chega a 42%, porque este valor é revertido em benefícios para a sociedade.
Imagem: Rajarshi Mitra, em CC

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