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19 de dezembro de 2008

Livro problematiza escravidão contemporânea

No livro, Joel Quirk traça um amplo panorama da questão. Ele resgata as práticas de escravidão do passado e chega até as formas mais atuais como o tráfico de seres humanos, o trabalho forçado e a servidão por dívida

Por Repórter Brasil

Se a escravidão é proibida legalmente em 100% dos países do mundo, por que ainda não foi totalmente erradicada? Diante de questões como essa, Joel Quirk, do Instituto Wilberforce para o Estudo da Escravidão e da Emancipação (Wise) na Universidade de Hull (Reino Unido), disseca o universo complexo da escravidão contemporânea em “Unifinished Business” (“Um negócio que não terminou”), nova publicação sobre o tema que conta com o suporte da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), lançada semana passada.
No livro, Joel Quirk traça um amplo panorama da questão. Ele resgata as práticas de escravidão do passado e chega até as formas mais atuais como o tráfico de seres humanos, o trabalho forçado e a servidão por dívida.
Para o autor, a agenda anti-escravagista tem se deparado com uma série de desafios analíticos e políticos, raramente amenizados por ações legislativas. “Da perspectiva das políticas públicas, quatro temas centrais podem ser identificados: 1) educação, informação e prevenção; 2) mudanças legais complementares; 3) efetivo cumprimento das leis; 4) libertação, reabilitação e restituição”, indica .
Esses temas representam, na visão dele, o “núcleo do ativismo contra a escravidão contemporânea”. Ele lembra que, ao longo da última década, houve uma melhoria significativa no perfil da servidão humana, acompanhada de avanços paralelos no ativismo anti-escravidão e níveis mais altos de engajamento do poder público no enfrentamento do problema.
“Assim como a pobreza global e a degradação ambiental, esforços voltados à erradicação das formas de escravidão contemporânea tendem a engrenar cumulativamente em escala ampla e recíproca, mais do que uma simples e decisiva solução”, explica o autor do livro.
Visão global
Um dos pontos destacados da publicação diz respeito à visão global requerida para o combate ao crime. “Se nós queremos levar a sério o enfrentamento tanto da escravidão contemporânea como de seus legados históricos, precisamos também desenvolver uma visão global que coloca a escravidão como parte de questões mais amplas como a pobreza, a desigualdade, o racismo e a discriminação”, adiciona Joel.
“Assim como as questões ambientais e de gênero, toda proposta de relevo, toda reunião de planejamento e todas plataformas políticas e empreitadas comerciais deveriam incluir um explícito componente anti-escravagista, com o impacto de várias políticas e atividades sendo diretamente avaliadas de acordo com a sua capacidade de combater a escravidão contemporânea”, recomenda.
Em seu mais recente trabalho, o pesquisador norte-americano Kevin Bales – que tem´diversas publicações sobre o tema – toca na idéia de visão, observando que muitas pessoas não são capazes de ver a escravidão que nos ronda. Para o autor, além da questão de complacência, “existe também um profundo fator de influência herdado do passado”. “Durante os últimos 250 anos, a escravidão foi sendo concebida como um traço perdoável de um tempo remoto, que fez parte de um estágio menos desenvolvido da evolução humana”, continua.
“Quando a escravidão é entendida como uma relíquia histórica, mais do que um problema dinâmico, pode se esperar que uma espécie de cegueira com relação aos problemas contemporâneos. Para superar essa herança cultural, uma visão mais profunda e ampla faz-se necessária. Em vez de reduzir a escravidão a uma anomalia “peculiar” histórica (que deve ser explicada fora do contexto atual), nós precisamos ver a escravidão como um componente disseminado e profundamente enraizado da vida contemporânea”, conclui.

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