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27 de março de 2012

Marisa assina Pacto contra escravidão e anuncia mudanças

Junto com mais 19 fornecedores, rede varejista assina compromisso para combater o trabalho escravo e promove alterações na sua cadeia produtiva

Texto e fotos Bianca Pyl

São Paulo (SP) – A rede varejista Marisa e 19 de seus fornecedores assinaram nesta terça-feira, 27 de março, o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo (leia o conteúdo do Pacto na íntegra). O compromisso foi assumido em um evento na sede da empresa na Barra Funda, em São Paulo, no qual foram anunciadas mudanças na produção das peças. Após o flagrante de escravidão na sua cadeia produtiva, em fevereiro de 2010, a Marisa passou por um processo de revisão das exigências feitas aos fornecedores. “O nosso modelo antigo se mostrou falho”, diz Roberto Sampaio, diretor de compras da Marisa. “Foi preciso ir a fundo para entender o problema para pensarmos em como saná-lo”, conta Roberto.

Roberto Sampaio, diretor de compras, apresenta as mudanças adotadas pela empresa
Segundo Roberto, uma equipe formada por auditores da empresa – com formação específica para detectar irregularidades relacionadas ao meio ambiente de trabalho – realiza vistoria in loco em todos os fornecedores e subcontratados sem avisá-los com antecedências. “Antes fazíamos visitas agendadas aos fornecedores e mais dois subcontratados”, explica o diretor de compras. Quando algum problema é detectado, a Marisa e o fornecedor fazem um plano de ação, com prazo determinado para cumprimento.

O resultado desta mudança de postura foi o corte de mais de 70 fornecedores diretos e indiretos que não se adequaram. “Foi um trabalho árduo, muitos parceiros antigos não entenderam as mudanças e tivemos que cortar relações, assim como fornecedores cortaram oficinas que não se adequaram”, relata Roberto.
Auditoria interna
De acordo com Rene Eduardo Flávio, responsável pelo Controle de Qualidade e por coordenar a equipe de auditores da Marisa, alguns fornecedores ou subcontratados se recusaram a abrir a porta para os auditores e houve casos de recusa em se adequar. Em 2010, a Marisa realizou auditorias em 50 fornecedores e 437 oficinas de costura. Em 2011 esse número passou para 74 e 418, respectivamente. Este ano já foram vistoriados 94 fornecedores e mais 474 subcontratados. Além disso, a varejista passou a rastrear a produção por meio da nota fiscal para saber exatamente onde o pedido foi confeccionado e ter total controle.

Rene Eduardo Flávio, do Controle de Qualidade da Marisa

Em cumprimento ao Termo de Ajustamento de Conduta, assinado em setembro de 2010 com a Procuradoria Regional do Trabalho da 2ª Região (PRT-2), a Marisa tem enviado relatórios das auditorias realizadas em seus fornecedores para a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP). Foram enviados mais de mil relatórios, entre 2010 e 2011, de acordo com Rene.
Os relatórios são enviados ao Grupo de Combate ao Trabalho Escravo Urbano da SRTE/SP, coordenado por Luís Alexandre Faria. Segundo o auditor fiscal, que coordena as fiscalizações nas oficinas, há dois anos não são encontradas peças das Marisa em oficinas com trabalho degradante. Outro indício positivo apontado pelo coordenador do Grupo de Combate ao Trabalho Escravo é o aumento do número de trabalhadores formais, apesar da diminuição do número de pessoas jurídicas na cadeia de fornecedores da Marisa. Foi um salto de 4,5 mil para 6,5 mil trabalhadores na costura, em média, de acordo com Luís.
“A indústria têxtil não cresceu tanto a ponto de justificar a criação de 2 mil postos de trabalho, isso é resultado do processo de mudança na cadeia produtiva da Marisa”, avalia Luís. O coordenador confirma que recebe periodicamente relatórios das auditorias realizadas pela empresa, bem como informações sobre o corte ou adesão de fornecedores na cadeia produtiva.
Para Caio Magri, do Instituto Ethos, a Marisa tende a ser referência no setor pelas ações desenvolvidas em um curto prazo. “Não é fácil assumir a responsabilidade como a Marisa fez, ainda mais em uma situação como esta que envolve direitos humanos”, disse Caio.

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