Nos EUA, InPACTO chama a atenção para a inclusão de trabalhadores libertados
O InPACTO está entre os participantes de duas conferências que fazem parte do evento “Out of the Shandows” (Fora das Sombras), realizado nos Estados Unidos nesta semana. Um dos encontros foi realizado Washington na última quarta-feira (22), e o outro será em Los Angeles, na nesta sexta (24). Os eventos foram promovidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), pelo Departamento de Trabalho dos Estados Unidos e pela fundação Humanity United.
No encontro de quarta-feira, Mércia Silva, coordenadora executiva do InPACTO, participou do painel de discussão sobre como melhorar as condições e os direitos dos trabalhadores. Fizeram parte da mesa de discussão, Neidi Dominguez , diretora do Worker Centers & Community Engagement/ AFL-CIO, Steve Hitov, do Conselho Geral da Coalition of Immokalee Workers, Saket Soni, diretor executivo da National Guestworker Alliance e Haeyoung Yoon, vice-diretora de programas da National Employment Law Project. O presidente do Conselho Deliberativo do InPACTO, Roni Barbosa, também participou das conferências.
Em sua apresentação, Mércia ressaltou que a inclusão dos trabalhadores que foram tirados da condição de escravos para uma situação de trabalho digno é um dos desafios para a erradicação do trabalho escravo no Brasil. “Começamos a perceber no Brasil que todo o esforço de libertação não era suficiente para erradicar o trabalho escravo. Não erradicávamos e não percebíamos o quanto aquele trabalhador era vulnerável”, avaliou.
Segundo ela, essa vulnerabilidade vem dos 400 anos de exploração do trabalho escravo no Brasil, “é mais tempo usando o trabalho escravo do que o remunerado”, explicou. “Não adianta você libertar 1.100 pessoas, mandar todo mundo para casa e meses depois encontrar parte dessas pessoas submetidas ao trabalho escravo novamente. Você vai libertar a mesma pessoa de novo? Sim, porque você não deu condições que ela fosse reinserida no mercado”, exemplificou.
Outra dificuldade apontada por Mércia parte das próprias vítimas que às vezes estão tão inseridas em um contexto de pobreza e exploração que sequer se dão conta que de são exploradas. “Não fácil para eles reconhecerem que passaram a vida sendo tratados desse jeito. Imagina uma pessoa que passou 35 anos em uma situação de trabalho escravo ou de vulnerabilidade e depois, em duas horas, recebe a informação de que era escravo e não pode ser mais”, ressaltou.
Por esses motivos, Mércia afirmou que é necessário olhar para essas pessoas, pensar na melhoria das condições de trabalho ouvindo esses trabalhadores. O mesmo para os casos de trabalhadores imigrantes, que têm expectativas e referências diferentes com relação ao trabalho. “O que os bolivianos, por exemplo, querem? O que entendem como trabalho? O que entendem como situação digna aqui no Brasil?”, questionou. De acordo com Mércia, este é um dos desafios para o governo brasileiro lidar com o tema.
Mércia finalizou afirmando que o InPACTO busca empresas que possam apoiar nacionalmente e internacionalmente esses aspectos, mesmo que não seja em suas próprias cadeias produtivas. “Já temos também a situação contrária. Temos empresas que não tem problema nenhum em relação ao trabalho escravo, mas tem o problema de falta de gente para trabalhar. Então essas empresas querem oferecer o curso de qualificação profissional para quem for liberto do trabalho escravo. Então entender isso é um passo importante”, concluiu.
Sobre o evento
O objetivo das conferências é promover estratégias inovadoras para a erradicação efetiva do trabalho forçado e de outras formas de exploração do trabalho, incentivar a partilha de conhecimentos, experiências e melhores práticas com foco no Brasil e nos Estados Unidos, além de discutir a relação entre as práticas de exploração do trabalho e trabalho forçado.
A participação do InPACTO nas atividades do evento “Out of the Shandows” faz parte de uma agenda de “continuidade do processo de transição do Pacto enquanto projeto para o InPACTO, Instituto”. O diálogo será junto aos parceiros desta transição, Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, Organização Internacional do Trabalho (OIT), OIT Brasil e governo brasileiro. Segundo Mércia Silva, que participa das conferências pelo InPACTO, “são apoiadores que aportaram recursos para as diversas ações da OIT no Brasil no combate ao trabalho escravo, dentre elas a criação-institucionalização do InPACTO”.
Mais informações no site (em inglês) do evento: http://workerexploitation.org/